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Considerado
um dos responsáveis pelo golpe de Estado de 2009, Adolfo Facussé elogia
propostas de mulher de Zelaya e governos de Brasil e Equador
Por Giorgio Trucchi | Opera Mundi
Por Giorgio Trucchi | Opera Mundi
Adolfo “Fito” Facussé é um reconhecido e poderoso empresário hondurenho. Membro da dinastia dos Facussé, cuja linhagem conta com um ex-presidente da República, deputados, magnatas da maquila, a indústria têxtil, e do florescente negócio do óleo de palma (dendê), além de serem donos de marcas alimentícias, meios de comunicação e bancos. Adolfo Facussé é também presidente da ANDI (Associação Nacional de Industriais).
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Considerado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos um dos principais artíficies do golpe de Estado que, em 2009, destituiu o presidente Manuel Zelaya, Facussé sofreu um grave revés quando, em setembro daquele mesmo ano, as autoridades migratórias norte-americanas lhe negaram a entrada no país, como consequência da revogação indeterminada de seu visto norte-americano.
Sua opinião conta e muito no país. Quando fala, parece que nunca o faz em caráter pessoal, senão expressando o sentimento de seus pares, daquele poder político-econômico que move os fios invisíveis do tecido social e institucional desta nação centro-americana.
Sua presença e suas declarações durante a apresentação das bases do programa de governo de Xiomara Castro, candidata presidencial do partido Libre (Liberdade e Refundação), braço político da Frente Nacional de Resistência Popular hondurenha, cujo coordenador nacional é seu marido, o ex-presidente Manuel Zelaya, não apenas constituem uma virada inesperada, mas também mandam uma mensagem significativa para a nação e seus eleitores.
Em entrevista a Opera Mundi, Adolfo Facussé disse que não se assusta com um eventual governo de Xiomara Castro, que lidera as pesquisas de intenção de voto. E foi além, compartilhando a mensagem de reconciliação e o chamado para um pacto de país. A presença do Libre e o rompimento do bipartidarismo nestas eleições é um “florescimento da democracia”, que traz força suficiente “para provocar a reforma do sistema”, disse.
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Além de atacar com força a incapacidade do governo de Porfirio Lobo – “o pior governo que já tivemos em Honduras” – e a atuação do candidato da situação e ex-presidente do Congresso Nacional, Juan Orlando Hernández, Facussé reconheceu indiretamente que a crise, em grande parte gerada pelo golpe, afetou fortemente até os interesses do setor empresarial que, em seu momento, apoiou a ruptura constitucional.
Opera Mundi: Qual é a sua análise da conjuntura político-eleitoral do país a apenas três semanas das eleições?
Adolfo Facussé: Muita gente está preocupada com o que está acontecendo, porque toda mudança traz certa inquietude. Eu vejo como um florescimento da democracia. Durante cem anos tivemos dois partidos tradicionais muito fortes que se intercambiavam no poder.
Hoje a cidadania tem mais opções e isto tem força suficiente para provocar a reforma do sistema, incluindo esses velhos partidos que não mudaram e agora estão sendo obrigados a se modernizar.
OM: O candidato governista, Juan Orlando Hernández, fez da militarização da sociedade sua principal mensagem de campanha, querendo devolver às Forças Armadas o protagonismo do passado. Qual a sua opinião?
AF: Entendo a utilidade política de enfatizar esse tema, porque as pessoas estão assustadas com os níveis de violência que existem no país, mas as funções que têm a Polícia e o Exército são muito diferentes. No caso da recém-constituída Polícia Militar – eu os chamo de Robocops – estão querendo convencer as pessoas de que essa é a solução, mas não é bem assim.
Devemos submeter a polícia a um processo real de limpeza e depuração, devemos resgatá-la para que as pessoas voltem a confiar nela e a vê-la como sua defensora. Nesse sentido, acredito em uma polícia mais próxima da população. Lamentavelmente, esse governo se descuidou e fracassou na tentativa de depuração.
OM: Como vê a proposta da candidata do partido Libre, Xiomara Castro, de convocar um pacto social entre os diferentes setores do país e instalar uma Assembleia Constituinte?
AF: De acordo com todas as pesquisas, nenhum partido terá maioria absoluta no Congresso. Independentemente de quem ganhe as eleições, vai ser difícil promover mudanças sem um acordo e o consenso entre as diferentes forças políticas. Nesse sentido, parece um bom modelo o que aconteceu no México, onde as três principais forças políticas assinaram um Pacto pelo México e um plano de ação consensual.
Eu concordo que necessitamos de mudanças e de transformações profundas. Como empresários, não podemos funcionar se as pessoas estão morrendo de fome. Necessitamos que as pessoas estejam bem, que estudem, trabalhem e ganhem bem. Se continuarmos como agora, o resultado será mais violência, desemprego, migração, empresas que vão para outros países como a Nicarágua e o México.
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Entretanto, mais que uma Assembleia Constituinte — temos que lembrar que em 2009 ela provocou o rompimento da ordem constitucional no país—, o que temos sugerido na ANDI é a formação de um grupo amplo de pessoas com uma trajetória inatacável, que gozem do respeito nacional, que se dediquem a analisar e a pensar em quais são as reformas e as mudanças que precisam ser feitas. Uma fez que se chegue a um consenso, essas reformas seriam submetidas a um plebiscito e finalmente levadas ao Congresso para sua aprovação.
OM: A candidata presidencial do Libre diz que já não é aceitável uma sociedade onde a riqueza está concentrada em poucas mãos, enquanto a pobreza cresce a cada dia...
AF: Quando falamos de mudanças profundas, é necessário entender que o setor privado tem um papel em investir, criar emprego e bem-estar. Não se resolve nada distribuindo a riqueza, mas sim gerando bem-estar e oportunidades. A economia informal e a pequena e média empresa têm um papel fundamental na economia do país. O novo governo deverá focar no crescimento desses setores, porque podem criar um efeito multiplicador na geração de emprego. Além disso, temos de fortalecer a educação, sobretudo a educação técnica.
OM: Não assusta um governo de Xiomara Castro e a presença política do ex-presidente Zelaya?
AF: Na minha associação há medo de um governo do Libre e da possibilidade de que tentem instalar aqui um sistema como o venezuelano. Pessoalmente, gosto do modelo de consenso e simpatizado com o que fez o presidente Lula no Brasil. Ele chegou a um acordo com a Confederação Nacional da Indústria do Brasil e, em oito anos de governo, o Brasil duplicou sua economia e a pobreza diminuiu 22%. Também gosto do que fez Rafael Correa no Equador e acredito que uma esquerda inteligente e não radical seria uma grande contribuição para esse processo de mudança em Honduras.
OM: Gosta do chamado à reconciliação que o Libre faz?
AF: A mensagem de Xiomara Castro tem sido muito conciliadora, muito positiva, e tenho muito carinho por Manuel Zelaya e por dona Xiomara. Somos amigos.
OM: Em 2009, a sua posição durante o golpe foi bastante clara…
AF: Sim, claro, mas eu, por exemplo, apoiei a Petrocaribe em Honduras, apoiei Zelaya na adesão à ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) e fui muito mal visto por meus companheiros empresários. O que não podemos aceitar é a imposição de mudanças à força. Necessitamos de uma liderança que nos inspire, nos apaixone e que nos leve a mudanças consensuais.
Naquele momento eu disse ao presidente Zelaya que não iria acompanhar o processo da Quarta Urna porque iria gerar problemas e criar contradições em seu próprio partido (Liberal), assim como fortes choques com todos os setores e instituições. Agora a situação é diferente e acredito que podemos chegar a um consenso sobre a necessidade de mudança.
OM: Se Xiomara Castro ganhar, isso poderia gerar novamente uma situação semelhante à de 2009?
AF: As circunstancias são totalmente diferentes. As Forças Armadas já viram a reação internacional contra o que aconteceu e não acredito que seja possível que se repita. Se o partido Libre ganhar, deverá buscar uma forma de se entender no Congresso com as demais forças políticas. O que me preocupa é a parte da esquerda mais extrema, que existe dentro do Libre, e a possibilidade de que arraste a parte mais moderada que saiu do Partido Liberal a reações que conduzam a um choque com outros setores.
OM: Percebe-se certa proximidade entre o senhor e a proposta do Libre. Será que veremos o presidente da ANDI votar em Xiomara Castro?
AF: Eu tenho meu partido, me abstenho. Aqui estamos em um evento do Libre e me sinto muito cômodo, assim como quando estou em um evento do Partido Liberal. O que vejo de positivo é que a democracia está florescendo e não tenho medo de dizê-lo.
Tenho sido um crítico violento do regime atual e o qualifiquei de o “pior governo que já tivemos no país”. Com a herança mortífera desse governo, será necessária muita unidade e empenho para que o próximo governo triunfe.
Fuente original: Opera Mundi
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